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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
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Quando te inventei, tratei naturalmente com primeiro e primordial cuidado do recheio. Do sentir, do pensar, do olhar. E esses não explico, porque não se explicam. Depois deixei-me divagar enquanto te desenhei por fora. Esculpi cada curva de olhos fechados, sabendo que só assim o ombro iria sair perfeito e o osso da anca com a dimensão certa, no sÃtio certo. Depois, percorri-te inteira com as mãos, como quem dá um polimento final e afina a textura da tua pele. Quis acabar com um toque exótico e com as pontas dos dedos polvilhei-te de sinais em sÃtios rigorosamente escolhidos ao acaso. Alguns cairam no pescoço, outros no peito, bastantes nas costas, um ou outro nos ombros. Então, para não fugirem, apenas para não fugirem, colei-os à tua pele com os meus lábios. Um a um. Foi nessa altura que abriste os olhos.
# Jorge Moniz |
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