|
|
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
Ali, com vista para o biplano a fazer loops e para as gaivotas pousadas junto ao altifalante que emite a voz de uma ave de rapina supostamente para as afastar das piscinas e com vista para aquele céu limpo sobre o mar e aquele céu negro sobre a terra, ali a dúzia de castanhas que aquela senhora de lenço estampado na cabeça vende por detrás do fumo que elas fazem, a dúzia de castanhas que ela vende não custa um euro como nos outros sítios. Custa trezentos paus.
Ela não se incomoda com isso. Nem com o facto de a maior parte das pessoas que passam por si não terem sequer carteira no bolso porque vão de calções e fatos de treino e bicicletas e patins e ténis com rodas traseiras e aquele triciclo estúpido que funciona balançando para um lado e o outro. Ela não se incomoda com isso porque pensa na filha.
A filha da vendedora de castanhas com o lenço estampado enrolado na cabeça, embora não esteja ainda muito frio, acha na sua adolescência tardia de 28 anos que o príncipe encantado se torna mais credível quando ela fecha os olhos e ouve o Purple Rain. Em loop, como o biplano diante dos olhos da mãe.
# Jorge Moniz |
|
|
|