frutos de sombra













frutos
 
  • Fotos
  • Filmes
  • Livros
  • Discos
  • Petiscos
  • Viagens
  • Tempo
  • Notícias
  • Dicionário
  • Wikipedia
  • Cidadão





  • e-mail

    This page is powered by Blogger.

    Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com














    domingo, 13 de janeiro de 2008


    Ovos mexidos com farinheira



    Nos dois lados da minha família já só há uma pessoa viva duas gerações acima de mim: o meu tio-avô, irmão do meu avô de que já tenho falado aqui. Eram bastante parecidos, embora o meu tio-avô seja mais vermelhão.
    (enquanto o meu avô bebeu toda a vida um copo de tinto ao almoço, o meu tio-avô tem sido mais generoso na comida e na bebida)
    Fez a semana passada 90 anos. Para celebrar o facto, preparou-se em segredo um almoço surpresa.
    (e esta parte de fazer surpresas a uma pessoa de 90 anos não deixou de me fazer levantar uma sobrancelha [mas só uma])
    Foi ontem. Entre filhos, netos, sobrinhos, sobrinhos-netos, sobrinhos-bisnetos e cônjuges desta malta toda, contavam-se 28 pessoas à mesa. Algumas não se viam há dez anos,
    (data do último casamento na família)
    mas o meu tio-avô soube dizer o nome de cada pessoa que lhe aparecia à frente.
    (mesmo daqueles pirralhos de 4 anos que eu confundo uns com os outros)
    O almoço ribatejano de gema quase nos obrigou a atirarmo-nos para o chão e rebolar como forma de chegar aos carros, 4 horas depois de termos começado a comer. O meu tio-avô apenas se queixou da pausa entre as 18 entradas diferentes e a canja e os dois pratos de carne.
    Entre os primos mais afastados a conversa ia fluindo, como se não tivessem passado vários anos e eu não tivesse dificuldade em reconhecer alguns na rua se os visse. Curiosamente não reparei neste facto até ao brinde, feito com um porto com 90 anos guardado até esta data. Ao agradecer, o meu tio-avô observou
    (com aquela sagacidade que a experiência traz)
    que tinha muito orgulho em ver toda a gente ali à volta em harmonia, bem-dispostos e de saúde. E isto, que nos estava a parecer tão natural que nem tínhamos reparado, emocionou-nos e deve sim ser valorizado e apreciado.
    No fim do brinde bradámos “que conte outros tantos!”.

    # Jorge Moniz |