frutos de sombra













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    terça-feira, 8 de janeiro de 2008



    “Quando a dor no peito me oprime, corre o ombro, o braço esquerdo, surge nas costas, tumifica a carótida e dá-lhe um calor que não gosto; quando a respiração se acelera em busca de uma lufada que a renasça, o medo da morte da morte afinal se escancara (medo-mor, tamanha injustiça, torpeza infinita), aperto a mão da Irene, a sua mão débil e branca. Quero acordá-la. E digo: «Não me deixes morrer, não deixes...». Penso para comigo, repito para me convencer: «Esta pequena mão, âncora de carne em vida, estas amarras suas veias artérias palpitantes, este peso dum corpo e este calor, não me deixarão partir ainda...» E aperto-lhe a mão com força, e acabo às vezes por adormecer assim, quase confiante, agarrado à sua vida. Ah, são as mulheres que nos prendem à terra, a velha terra-mãe, eu sei, eu sei! São aquelas que nos salvam do silêncio implacável, do esquecimento definitivo, elas que nos transportam ao futuro, à imortalidade na espécie (nem teremos outra) pelo fruto bendito do seu ventre (eu sei, eu sei...).”
    Luiz Pacheco

    (sim, faço descomplexadamente parte daqueles seres incultos que só conhecem escritores quando morrem)

    [seres incultos que não são poucos, já que como se sabe é depois da morte do autor que se vende mais]

    {sempre que escrevo um advérbio de modo com o sufixo “mente”, lembro-me do Gabo que pretende nunca os ter usado, por serem um truque fácil}

    # Jorge Moniz |