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domingo, 19 de julho de 2009
Recital e tal
"Porque afinal o que importa não é o modo como se ama mas conhecer restaurantes e ser muito bom na cama."
Pedro Mexia
Uma nêspera estava na cama deitada muito calada a ver o que acontecia
chegou a Velha e disse olha uma nêspera e zás comeu-a
é o que acontece às nêsperas que ficam deitadas caladas a esperar o que acontece
Mário-Henrique Leiria
O conta-orgasmos registara várias centenas naquele ano. Micas disse um dia peremptória: A-CA-BOU-SE. Fiquei triste. Onde diabo iria eu desencantar um orgasmo como o da Micas? Era um orgasmo que se saía por inteiro, com quedas de unhas de pés, dentadas e outros gestos acessórios. Era um orgasmo lindo, o da Micas! Mas como o amor é coisa mental, algo sucedera na mente da Micas. Pus-me a cogitar. A Micas, provavelmente, sentia-se abusada, sentia que os orgasmos eram contra ela. Uma ideia mesmo de mulher. A Micas queria, se calhar, sentimento. Exactamente o que eu não lhe podia dar, ou melhor: Podia dar-lhe sentimento mas sob a forma prazenteira de um orgasmo. A Micas pensava que os orgasmos eram da sua inteira iniciativa e responsabilidade, que eram disparos que ela regulava a seu bel-prazer, não contando com a colaboração do homem. Esta a explicação que me convinha encontrar na minha extrema cogitação. Mas eis senão quando a Micas começou a retocar a olheira, a tornar mais sensual o lábio, a modificar o facial para diferente melhor. Não eram sinais que a mim se dirigissem. Para mim bastavam coisas de somenos, como um ar desanuviado ou um sorriso gaiato. A Micas estava a mudar. Independência ou Morte proclamou a Micas numa bela noite. Chegara finalmente a Hora do Marreco, o que dá sorte às mulheres, azar aos homens, disse eu de mim para comigo, com um desportivismo bem de macho, enquanto pensava em maternalismos e outros proto-sentimentos semelhantes. Encolhi os ombros e o laudemus e não pensei mais na Micas e nos seus orgasmos, na verdade lindos e, porque não dizê-lo?, inesquecíveis.
Alexandre O'Neill
artur vilas boas fez um filho na noite de núpcias.
josé galhardo fez um filho na n oite de 29 de fevereiro e a mulh er disse: isto não acontece todos os anos
nuno aranha fez dezassete filhos legítimos
joão de aguiar fez num só dia dois filhos, e conta o caso a quem o quiser ouvir.
joão manuel dito o larote fez três filhos, todos sem querer.
joão da atouguia não sabe quan tos filhos fez.
carlos mendonça fez nove filhas e à décima tentativa fez um fil ho varão como a família exigia.
luís bastos além de filhos fez t ambém netos.
daniel laranjo fez as contas - 1 f ilho, 160; 2 filhos, 180 cada; cad a filho a mais, 240 - e começou logo com a produção.
nuno soromenho acha que os he rdeiros ainda virão, mas está co meçando a ficar nervoso.
manuel almeida ainda não casou, mas quando casar fará os filhos que quiser.
hermenegildo lopes tem um men ino de seis meses e já lá vem o utro a caminho.
assis conceição em princípio só faz gémeos.
josé cordeiro já traz de olho a mã e dos seus filhos.
ângelo silva diz que os filhos são seus e pode fazer com eles o que quiser.
josé marreta vai e vem, entra e sai, faz um filho ou não faz n ada.
joaquim sampaio diz sempre que a maternidade é uma das maiores venturas de que as mulheres des frutam.
brito e cunha educa os filhos à antiga: manda-os calar com o c hicote.
mota lucas educa-os à moderna: manda-os simplesmente calar.
bento themudo faz um filho sem pre que pode.
reinaldo rosas faz filhos só qu ndo quer.
tomé de lima antes de fazer filh os faz jejum.
artur campos faz filhos por distr acção.
josé do souto faz filhos por fazer.
norberto coelho acha que é norm al fazer filhos.
azevedo filho acha que é gosto so fazer azevedo neto.
padre osório, quem havia de d izer, é um grandecíssimo filhento.
antunes salgado olha para os fil hos por cima dos óculos.
luís pacheco é o que se sabe.
albino pimenta aluga os filhos ao s ceguinhos.
joão pestana estava a fazer um filho, mas interrompeu a meio.
luís gonzaga põe-se a cavalo nos filhos e diz: aí cavalgadura!
vasco peralta diz: coça-me aqui, filho, coça, no bico da teta.
Alberto Pimenta
# Jorge Moniz |
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