frutos de sombra













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    segunda-feira, 17 de agosto de 2009





    nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
    de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
    no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
    ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

    teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
    embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
    me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
    (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

    ou se quiseres me ver fechado, eu e
    minha vida nos fecharemos belamente, de repente
    assim como o coração desta flor imagina
    a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

    nada que eu possa perceber neste universo iguala
    o poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
    compele-me com a cor de seus continentes,
    restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

    (não sei dizer o que há em ti que fecha
    e abre; só uma parte de mim compreende que a
    voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
    ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas


    e. e. cummings, tradução de Augusto Campo

    # Jorge Moniz |