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    domingo, 9 de agosto de 2009


    O meu tempo
    Os tempos hoje são estes. Assim. Como se vêem. Há milhares de anos que o Homem consegue ir progressivamente aumentando a sua inteligência e, por consequência, complicando a vida. Cada vez mais distantes dos outros animais, já há muito que não nos basta comer, dormir, fazer filhos e catar as pulgas. Temos que tomar banho todos os dias, temos que lavar os dentes, temos que ir ao dentista, temos que vestir roupas, temos que cozinhar o que comemos, temos que ter empregos para pagar a comida que não caçamos, temos que ter fins-de-semana e férias para descansar, temos que cortar o cabelo, temos que ter uma cama macia num quarto confortável numa casa simpática onde dormimos abrigados, temos que ter televisão e dvd e computador com a ligação à internet mais rápida possível, temos que ter uma artimanha qualquer para levarmos música para todo o lado. Pára aqui. É aqui que se chegou a um ponto em que já não é só a variedade, é a rapidez. Qualquer coisa que nos faça feliz tem de ser instantânea. O tempo é de satisfação imediata dos nossos desejos, sob pena de frustração. E essa frustração leva ao saltitar. Se isto não me agrada ou me agradava e já não me agrada passados 5 minutos, é simples, troco, compro novo. O cd, a camisa, o amigo, o amante. Os tempos são descartáveis. O conforto económico faz com que seja fácil substituir por outro e por outro e por outro e por outro, sempre à procura duma satisfação idealizada.
    (sendo que se provamos o menu todo, ficamos enjoados demais para depois comer um prato inteiro)
    A paciência e a preserverança diminuem com objectos, tarefas e pessoas. A capacidade de concentração é mínima. Estamos a ler um livro e se há um parágrafo mais chato já fechamos o livro e vamos antes fazer outra coisa qualquer que nos dê uma satisfação mais imediata e garantida. O longo prazo está fora de moda, não há paciência.
    O meu tempo não é este, mas vivo nele. Com o desconforto de tentar remar contra a maré, de tentar saborear devagar, de tentar ainda ter a paciência e preserverança de outros tempos, sem ter a certeza se é possível a diferença. Com alguns dos meus amigos começámos por nos dar mal, tenho aí um livro da Agustina que só à terceira tentativa consegui ler e no fim dei por bem entregue o meu tempo.
    Mais do que isto é o senhor Raul, que prometeu ao pai nunca ser pobre e a si mesmo nunca ser rico. Consta que foi feliz.

    # Jorge Moniz |