frutos de sombra













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    sexta-feira, 13 de janeiro de 2006


    Branco
    Acontece uma única vez por ano. Uma manhã apenas. As leis da termodinâmica despedem-se por algumas horas e deixam a praia entregue a outras forças. Ao longo da noite, as ondas começam a enrolar sobre si próprias, abraçando-se umas nas outras. Os vizinhos mais distraídos da data ouvem o barulho da espuma e lembram-se. Quem mora perto prepara-se. Os adultos tiram as máquinas fotográficas das gavetas e embrulham-nas em sacos de plástico bem fechados. As crianças procuram esferográficas e tiram-lhes as cargas. Alguns adultos fazem o que as crianças costumam fazer e algumas crianças fazem o que os adultos costumam fazer. Com o nascer do sol inicia-se a romaria. As ondas libertam a espuma bem alta e começa então a surgir o vento que vem de poente, paralelo ao mar. Acumulam-se as crianças na ponta nascente da praia. Levam as canetas vazias à boca e quando o vento sopra mais forte contra elas, começam a correr contra ele. Correm junto à água, a espuma levanta-se das ondas, é uma espuma densa e branca que cobre cada uma das crianças. Como espuma de barbear, isso, espuma de barbear. Dezenas de vultos cobertos de branco deslocam-se entre gritos e risos, cobertos de branco da cabeça aos pés. Parece espuma de barbear, isso. Centenas de pessoas junto à estrada assistem e fotografam, tentando abrigar-se daquele vento que aparece uma única vez por ano. Quando os primeiros raios de sol transformam a penumbra em manhã laranja, o vento amaina e o calor da luz desfaz a espuma. As esferográficas sem carga voltam às mãos das crianças, as mãos das crianças voltam às mãos dos pais. Está na hora de um duche - para o ano há mais.

    # Jorge Moniz |