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sábado, 14 de janeiro de 2006
Chama
Ambos sabíamos que tínhamos de trabalhar para a manter. Principalmente depois das crianças. Daí termos construído esta casa com um plano bem pensado. Entre os quartos deles e o nosso há todas as outras divisões, para estarmos bem afastados. Quando eram mais novos ainda tínhamos aqueles emissores que disparam quando eles choram, para ouvirmos no nosso quarto. Mas agora não é preciso, se houver um problema eles sabem o caminho. E assim, todas as noites, temos um espaço e um tempo só nosso, onde voltamos a ser solteiros, sem medo de sermos ouvidos, nas nossas palavras, nos nossos murmúrios, despindo roupas, ideias e defesas, reconhecendo o teu sabor com uma língua irrequieta, ondulando um corpo ao som do teu, as mãos e as ancas impacientes. Dores de cabeça do dia de trabalho não são desculpa, são curadas.
# Jorge Moniz |
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