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domingo, 23 de setembro de 2007
Vistas curtas
Atravessava eu um terreno descampado quando dei por mim a reparar na distância que os meus olhos alcançavam. E se reparei é porque não é normal. Andamos todos a olhar para perto. Trabalhamos num escritório onde olhamos para o monitor a dois palmos do nariz, andamos pelas ruas de cidades onde a paisagem morre no prédio do outro lado da rua, jantamos a olhar para o prato e para a televisão. Nas férias vamos à praia. Sim, olhamos uns minutos para o mar, mas é mais o tempo que olhamos para o livro, o jornal, o telemóvel, o biquini do lado. Dizem os médicos que isto até faz mal aos olhos. Que ao trabalhar ao computador devemos fazer pausas e olhar para longe, para exercitar os músculos do olho. Como se percebe não estou a falar simplesmente de ver com os olhos, mas também com o tempo. Evita-se fazer planos a longo prazo, é mais fácil pensar apenas no hoje e no amanhã. Vistas curtas. Acontece a muitos políticos que pensam só até às próximas eleições, a empresários que pensam até à próxima encomenda, a homens e mulheres que pensam até à próxima noite de sexo. Longo prazo? E se corre mal? Mais vale o dia-a-dia. Tenho muita curiosidade em ver os efeitos nas estruturas tradicionais da sociedade deste comportamento daqui a umas décadas. Se tudo passa a ser mais descartável, a que nos agarramos? Quando se olha uma paisagem longínqua, a vida é mais longa.
# Jorge Moniz |
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