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domingo, 13 de julho de 2008
No meu bairro (2)
"Quem estará vivo daqui a 50 anos?" Era um homem aqui desta rua que perguntava isto. Eu era miúdo e fiquei a pensar naquilo, parecia uma coisa muito longe. E olhe, já vai para mais de 60 anos e eu ainda cá estou. Mas isto qualquer dia está tudo entregue aos pretos. As pessoas de cá têm um ou dois filhos. Eles têm seis ou mais. Mais uns anos e tomam conta disto. Expulsaram-nos de lá da terra deles e agora querem vir para cá. No tempo do Salazar ele mandava medicamentos e ninguém passava fome em África. Depois expulsaram-nos a nós e eles ficaram naquela miséria. Olhe no Parlamento deviam era andar à porrada como no italiano. Em vez de estarem ali como no debate da Nação com o Bloco de Esquerda só a dizerem umas coisas, era vê-los à estalada, isso é que era.
(conversa com octogenário aqui na loja da frente onde se vendem ganchos para o cabelo guardados numa caixa de cartão, vasos, terra, tintas, diluentes, sabonetes, molduras e o diabo a sete naquelas estantes de madeira que atrás do balcão se esticam até ao tecto, com um cheiro de loja que até nas aldeias já vai rareando)
# Jorge Moniz |
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