frutos de sombra













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    sábado, 14 de fevereiro de 2009


    Dos valentes
    O fim-de-semana amanheceu num silêncio solarengo.
    Interrompido pelo toque da campainha antes das 9 da manhã.
    - É o pedreiro.
    Era para o andar de baixo. Pouco tempo depois começa a fazer-se ouvir. Uma hora mais tarde, novo som a interromper o silêncio, uma sirene na rua. Alguns minutos depois a reclamação vinda da casa-de-banho.
    - Acabou-se a água!
    Ao mesmo tempo toca de novo a campainha, é um dos meus amigos bombeiros.
    - Bom dia, desculpe, tivemos de cortar a água para ver uma rotura, ligamos já a seguir.

    (o pedreiro já fez merda)

    Deixar as interrupções para trás e atacar a praça. A esta hora já quase não há peixe de jeito e as ovas estão a 24 euros. No regresso nova interrupção do silêncio. Sentado num banco de jardim, figura errante canta com uma viola negra o êxito de infância “é mentira, é mentira, é mentira sim senhor, eu nunca pedi um beijo, quem mo deu foi meu amor”. Apropriado.

    Sim, os casais. Casais parados dentro dos carros na marginal, há que passear a ver o mar hoje. Está sol e tudo. Casais a caminhar junto ao mar. Casais sentados no areal a ver o mar. Casais sentados no muro a ver o mar. Casais de 15 anos. Casais de 60 anos. Casais a andar de patins em linha e mãos dadas. Casais sentados no colo um do outro. Casais a tirarem-se fotografias. Casais a comerem sundaes. Casais a comerem castanhas. Casais a comerem gelados. Casais em que ele ficou em casa e anda só ela com o carrinho do bebé. Casais em que ela ficou em casa e anda só ele de cana lançada ao mar a esperar a mordida. Casais com um cão. Casais com uma vela em forma de irmão de um deles que tinha de vir. Casais do mesmo sexo. Casais sentados na esplanada. Casais a andar de bicicleta. Casais empunhando um par de escarlates botões de rosa.
    E depois aquela figura aqui na rua, camisa branca, sorriso marialva, cabelo grisalho abrilhantado para trás, com um cesto de flores embrulhado em celofane. Vai dizendo para os vizinhos que se metem com ele.
    - Só gozam comigo.
    As senhoras embevecidas à porta das lojas sonhando que o seu marido que ainda dorme em casa lhes fizesse o mesmo. Nem querem saber que talvez aquele cesto de flores vá repousar antes na mesa de vidro que aquela jovem empregada da farmácia talvez tenha no hall de entrada do seu apartamento, onde quinzenalmente recebe um casado senhor grisalho.

    Por aqui, ao almoço as espetadas foram acompanhadas inadvertidamente com couve coração e agora vou ali comprar um corneto no quiosque do jardim.

    # Jorge Moniz |