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terça-feira, 28 de julho de 2009
"- Mulher! Reza a Deus por mim! Dá cá um abraço. Até à volta! - Que vais fazer Joaquim? Onde vais? - Tu és surda, diabo? Pois tu não ouves? - E tua filha, se tu me faltas homem! - E sabes se os que lá estão em perigo não têm mulher e filhos também? - Arriba rapazes! Quirino! Carlos! Vamos daí… Lá foram, no salva-vidas, e de lá voltaram, com um carregamento de desgraçados que iam morrendo."
Esta era a vida do Patrão Lopes. Nascido em Olhão em 1798, passou por várias paragens antes de assentar arraiais em Paço de Arcos onde começou a trabalhar em 1820 como remador na falua (sim, a música da escola primária) que levava os militares à Torre de S. Lourenço da Cabeça Seca, mais conhecida por Bugio. Algum tempo depois salvou dois homens, pai e filho, de morrerem nas águas da foz do Tejo. E não mais parou. Portugueses, espanhóis, franceses, ingleses, levados pelas ondas ou naufragados de navios, até às 300 almas ainda contou, depois perdeu as contas. Quando a cólera levou o patrão da falua, Joaquim Lopes ficou com o lugar e com o direito a morar na Rua Direita, onde continua a existir a sua casa.
Ainda aos 85 anos de idade, não estando por perto os dois dos sete filhos que já lhe tinham sucedido na profissão, ainda se tentou aventurar a salvar os tripulantes de um barco francês, amarrando-se ao leme do salva-vidas. D. Luís, estando hospedado no Paço de Caxias, convidou o Patrão a visitá-lo. Quis ouvir dos seus feitos e no fim abraçou-o entregando-lhe a Ordem da Torre e Espada. Qual Camões, faleceu aos 92 anos, pouco tempo depois do Ultimatum inglês que o levou a devolver todas as medalhas recebidas do governo britânico. O funeral levou-o pelas águas do Tejo até Lisboa, onde ficou no Cemitério dos Prazeres.
Por sua causa criou a rainha D. Amélia o Instituto de Socorros a Náufragos, que tem um edifício junto de sua casa, conhecido de quem passa pela marginal.
(isto e mais, aqui e nesta exposição)
# Jorge Moniz |
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